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Há uma farta lista de expressões felizes cunhadas pelo feminismo de terceira onda (o feminismo “chega de fiu-fiu”, o feminismo da “ditadura da beleza”). Nenhuma, contudo, consegue ser mais oportuna, mais poderosa e mais impactante do que “cultura de estupro”. Explico.

Vejamos uma das definições de “cultura” no Dicionário Michaelis, a que melhor se aproxima do nosso propósito:

13 Sociol Sistema de ideias, conhecimentos, técnicas e artefatos, de padrões de comportamento e atitudes que caracteriza uma determinada sociedade.

Ou então a célebre definição do antropólogo inglês Edward Tylor:

Culture […] is that complex whole which includes knowledge, belief, art, morals, law, custom, and any other capabilities and habits acquired by man as a member of society.

(Vamos dar um desconto a Tylor por deixar transparecer seu privilégio machista ao dizer que a cultura é um complexo de hábitos acquired by man. Ele deveria ter dito acquired by people, mas infelizmente viveu no século XIX.)

Ora, cultura nada mais é do que um sistema de padrões de comportamento, de ideias e de crenças aceitas coletivamente pelos membros de uma determinada sociedade.

O estupro, sem dúvida nenhuma, se encaixa muito bem nesses termos: não há nada mais enraizado, consolidado e bem aceito pela mentalidade ocidental judaico-cristã do que o estupro.

De fato, pais ensinam seus filhos a serem estupradores desde a mais tenra idade. A prova mais cabal de que o estupro faz parte da nossa cultura é o fato de não haver qualquer menção à prática na lei. Estupro não é crime. Diversos vídeos comprovam que o estupro é prática bem aceita, e por que não dizer celebrada, na sociedade brasileira.

Fica evidente, portanto, que o estupro não é um crime praticado por homens desajustados, incapazes de lidar com regras básicas de convivência em sociedade; pelo contrário, ser estuprador é a forma de conduta padrão, institucionalizada, de qualquer “homem de verdade”, como a nossa sociedade machista gosta de dizer.